Prosimetron

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sábado, 2 de agosto de 2008

Roméo et Juliette em Salzburgo

A antiga Escola de Equitação (Felsenreitschule) de Salzburgo foi descoberta por Max Reinhardt para o teatro. Por Herbert von Karajan para a ópera. Mas nunca Romeu beijou a sua Julieta neste magnífico espaço...

Há instantes, terminou a estreia de Roméo et Juliette de Charles Gounod desta edição do Festival de Salzburgo, transmitida em directo através de um canal cultural de televisão. A obra, composta em cinco actos, tem libretto de Jules Barbier e Michel Carré.

A Escola foi palco desta produção extraordinária: o jovem canadiano Yannick Nézet-Séguin dirigiu a orquestra Mozarteum Orchester Salzburg e o coro Konzertvereinigung Wiener Staatsoper que estiveram à altura da sonoridade e majestosidade orquestral que Gounod exige nesta obra. A encenação ficou a cargo de Bartlett Sher que já deu provas do seu talento, quer em ópera (Met de Nova Iorque) quer em musical. Optou-se por um cenário adequadamente conservador, transposto para o barroco do século XVIII sem pormenores rococó supérfluos.

E os protagonistas? Na perspectiva da imprensa cor-de-rosa, Rolando Villazón e Ana Netrebko formariam, seguramente, o par ideal. Dado o intervalo profissional em que a grávida Netrebko se encontra, Juliette foi interpretada pela jovem soprano Nino Machaidze de 25 anos da Geórgia. Machaidze inicia a sua presença em palco imediatamente com uma voz segura, peca, no entanto, por alguma infantilidade na sua actuação cénica - mas não nos esqueçamos que a verdadeira (?) Julieta ascendeu ao estatuto de viúva com apenas 15 jubilosas primaveras... À medida que a narrativa se desenvolve e a partir da ária Je veux vivre, descobre-se uma artista com talento promissor, tecnicamente brilhante, como se de uma vasta experiência operática já dispusesse. Machaidze convenceu e encantou o público.
Russell Braun como Mercutio e Mikhail Petrenko no papel de Frère Laurent afirmaram-se como valores seguros do universo do canto lírico.

E Roméo? Rolando Villazón - sem dúvida, um dos maiores tenores da actualidade. O brilho e o belo timbre da voz, a segurança e o domínio técnicos deste mexicano são ímpares. Como actor, Villazón dificilmente deixará alguém indiferente. Com uma naturalidade e agilidade invulgares, encarnou um Roméo que ficará na memória deste festival.
Ao longo de todo o espectáculo, Villazón vive uma paixão por Julieta que ressuscita em nós momentos de felicidade que apenas sentimos ao estarmos apaixonados.

Die Liebe ist stärker als der Tod! O amor é mais forte do que a morte! - eis o mote que a Direcção deu a esta produção de Roméo et Juliette. Com Villazón, acreditamos nesta máxima...

Outro aniversário a 2 de Agosto

Hoje está de parabéns o meu querido amigo Jorge Pereira de Sampaio, alcobacense ilustre e, entre outros méritos, programador cultural de talento reconhecido. Basta mencionar, porque mais recente, o seu trabalho como programador-geral das Comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro, com mobilização de vários municípios e entidades, e inúmeras manifestações artísticas que perpetuaram a memória de um dos nossos mitos culturais.

2 de Agosto : um aniversário

Parabéns

Placido Domingo

Hernâni Torres

Pouco conhecido do público em geral, Hernâni Torres (1881 - 1935) foi pianista e compositor portuense. As suas obras são características da tradição romântica do Porto no período de transição do século XIX para o século XX.

Viveu na Alemanha onde deu vários recitais de piano. Foi ainda professor do conservatório de música de Leipzig.
Torres morreu a 2 de Agosto de 1935.

O registo musical mais recente é da autoria da pianista Sofia Lourenço que, no seu CD "Porto Romântico: Mazurkas e Romanzas", interpreta obras de compositores da cidade invicta, entre eles, Hernâni Torres.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Maria Callas : The Lisbon Exhibition / A Exposição de Lisboa

Finalmente vi a exposição que a Fundação EDP e o Teatro Nacional de São Carlos apresentam no Museu da Electricidade (Belém, Lisboa). Foi uma parte de tarde passada com grande prazer... desde a companhia (M. e J.M.) ao "espectáculo" em si. O espaço da antiga Central Tejo foi redesenhado para a exposição, dando vida e enquadramento à magnífica montagem.
Na primeira parte temos uma história de Callas mundana (desde os objectos pessoais, aos vestidos, às jóias); na segunda parte uma história da diva (com alguns dos vestidos e adereços usados em diferentes representações); na terceira parte uma história da Traviata representada, em Lisboa, em Março de 1958 (onde não faltou uma reconstituição do palco do Teatro Nacional de São Carlos - Lisboa, com o cenário do II acto da representação); uma quarta parte é constituída pelos complementos audiovisuais.
Lisboa está de parabéns! Temos montada uma grande e excelente exposição de cariz internacional.

Melodias da Broadway: Sunset Boulevard (With One Look)

(Ms. Betty Buckley interpretou Norma Desmond em 1994 no Adelphi Theatre, em Londres)


Não resisto -- com os magníficos posts do Filipe e revendo os olhares de Miss Lillian Gish (chegou-me hoje uma nova edição de "Broken Blossoms") e dos outros "monstros do cinema", é-me impossível não invocar a reencarnação de Norma Desmond nos palcos (nunca serão Gloria Swanson, mas também não queremos que sejam).

"With one look
I can break your heart
With one look
I play every part
I can make your sad heart sing
With one look you'll know all you need to know

With one smile
I'm the girl next door
Or the love that you've hungered for
When I speak it's with my soul
I can play any role

No words can tell the stories my eyes tell
Watch me when I frown, you can't write that down
You know I'm right, it's there in black and white
When I look your way, you'll hear what I say

Yes, with one look I put words to shame
Just one look sets the screen aflame
Silent music starts to play
One tear in my eye makes the whole world cry

With one look they'll forgive the past
They'll rejoice I've returned at last
To my people in the dark
Still out there in the dark...

Silent music starts to play
With one look you'll know all you need to know

With one look I'll ignite a blaze
I'll return to my glory days
They'll say, "Norma's back at last!"

This time I am staying, I'm staying for good
I'll be back to where I was born to be
With one look
I'll be me!
"

"With One Look", "Sunset Boulevard", música de Andrew Lloyd Webber e letra de Don Black e Christopher Hampton (sim, o dramaturgo e argumentista de "Ligações Perigosas")

We didn't need dialogue! We had faces!

Uma homenagem - muito incompleta - aos grandes rostos do cinema mudo: Rudolph Valentino, Mary Pickford, Charles Chaplin, Lillian Gish e Gloria Swanson.






Pola Negri

Pola Negri – um nome, um mito. O fascínio à volta de Pola Negri é o fascínio por uma época do cinema única, longínqua, quase irreal. “We didn’t need dialogue! We had faces!”, magníficas são estas palavras que Gloria Swanson deixou à posteridade em Sunset Boulevard e que exprimem a grandeza de nomes como o de Negri. Com Pola Negri, revemos Valentino e Chaplin, com Pola Negri revivemos Reinhardt ou Lubitsch. Com Pola Negri, voltamos às raízes da nossa paixão pela Sétima Arte.

Barbara Appolonia Chalupiec nasce em Lipno (Polónia), a 31 de Dezembro 1894. Filha de um húngaro de origem cigana e de uma polaca, inicia aulas de ballet aos catorze anos. Mas o destino é-lhe pouco benevolente: o pai morre em prisão na Sibéria. Barbara escapa à tuberculose e vive, juntamente com a sua mãe, a miséria de milhões desafortunados durante a Primeira Guerra Mundial. Interrompe o ballet. Com as escassas poupanças conseguidas pela mãe, ingressa na Academia de Artes Dramáticas de Varsóvia. Tem os seus primeiros êxitos em palco e no cinema polaco (Slave of Sin, a título de exemplo). Adopta o nome Pola Negri em homenagem à sua poetisa favorita, a italiana Ada Negri.

As biografias divergem sobre quem terá descoberto Pola Negri: o realizador polaco Ordynsky ou, mais provavelmente, Max Reinhardt (com quem Ordynsky realizou vários trabalhos). Reinhardt, génio sublime do teatro, convida Pola para o papel principal na peça de pantomimas Sumurun que, aliás, viria a ser adaptada a filme em 1920 com Negri sob a direcção de Ernst Lubitsch.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, Negri muda-se para a Alemanha. Estamos em 1918 e no início dos anos de ouro do cinema alemão. À semelhança de Asta Nielsen ou Henny Porten, Pola Negri ascende ao estrelato da Ufa sob a égide de Ernst Lubitsch. Die Augen der Mumie Ma, Carmen e Madame Dubarry, da autoria do grande mestre, lançam Pola Negri para o egrégio Olimpo dos deuses do cinema mudo. Sob Lubitsch, seguem-se Anna Boleyn ao lado de Emil Jannings como Henrique VIII , Die Bergkatze ou Die Flamme.

No auge da sua carreira, Negri aceita o convite da Paramount em 1922. Para se tornar rival de Gloria Swanson? Talvez os estúdios a procurem com esse objectivo. Pola é a primeira artista europeia a ser requisitada por Hollywood, antes de Greta Garbo ou Marlene Dietrich. Nos Estados Unidos, Negri cumpre todos os clichés das divas da época: cachets inimagináveis, luxúria, e, claro, os romances com Charles Chaplin e Rudolph Valentino, cuja morte Negri chora de forma teatral e dramática culminando num desmaio sobre o caixão do actor (segundo dizem…).

O percurso profissional passa por The Spanish Dancer (1923) de Herbert Brenon e Forbidden Paradise (1924) em que Negri, sob Lubitsch novamente, encarna Catarina a Grande. De referir ainda A Woman of the World (1925) de Malcolm St. Clair e Hotel Imperial (1927) de Mauritz Stiller, considerado por críticos o melhor filme de Negri.

A partir daí, os tempos mudam. O forte sotaque polaco de Negri soa pouco agradável aos microfones que revolucionam o cinema.
Regressa à Alemanha onde tenta retomar o sucesso de outras eras. A Ufa contrata-a para películas como Mazurka (1935), cujo remake nos Estados Unidos, dois anos mais tarde, contava com Kay Francis como leading woman. Em Mazurka, como noutros filmes realizados nos anos 30, Negri afirma-se como cantora, algumas canções são gravadas em alemão e inglês.
No entanto, as preferências do público e o contexto político-social dos anos 30 na Europa são pouco favoráveis a Negri que, completamente penniless, regressa aos Estados Unidos em 1938.

As únicas aparições cinematográficas mostram-nos Negri em Hi Diddle Diddle (1943) e The Moonspinners (Disney, 1964). Billy Wilder terá proposto o papel de Norma Desmond em Sunset Boulevard a Negri que, por sua vez, terá declinado o convite recusando-se a interpretar uma ex-vedeta do cinema mudo…Gloria Swanson foi mais inteligente ao aceitar este papel.
A partir da década de 50, exerce com sucesso a actividade de corretora imobiliária.

Negri foi casada duas vezes: com o conde polaco Eugene Dombski e o príncipe Sergej Mdivani da Geórgia (há quem continue a contestar a legitimidade do título aristocrático) que teve a amabilidade de abandonar a actriz em 1929, depois de fortunas perdidas no grande Crash de 1929.

Pola Negri morreu a 1 de Agosto de 1987 em San Antonio (Texas).

Quotidiano mais-que-prosaico: pôr-do-sol


quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ainda a AGNSW - Os Budas Perdidos




De 29 de Agosto a 23 de Novembro, a Art Gallery of New South Wales expõe "The Lost Buddhas", consistindo numa selecção de 35 estátuas em provenientes da descoberta em 1996 em Qingzhou, Shandong (China Oriental), de centenas de Budas criados nos séculos VI a IX (dinastias Wei e Tang). Esta descoberta tem sido comparada em termos de relevância à descoberta dos Guerreiros de Terracota de Xi'an.

Monet e os impressionistas na ARNSW



A Art Gallery of New South Wales, em Sydney, recebe de 11 de Outubro a 26 de Janeiro a exposição "Monet and the Impressionists", através da colecção do Museum of Fine Arts de Boston, EUA. A exposição aborda o período de 1860 a 1900, contemplando a obra de Monet e a sua influência nos seus contemporâneos, incluindo obras de Cézanne, Manet, Degas, Pissarro, Renoir e Sisley (terá algum dos invernos de Sisley?).

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.


Camilo Pessanha
in Clepsidra

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Melodias da Broadway: Wicked (Melbourne)


Acabei de ver "Wicked", o musical. Trata-se de uma "prequela" ao "Feiticeiro de Oz", relatando a história oculta do que se passava em Oz antes de Dorothy aterrar e do famoso "I think we're not in Kansas, anymore"; de uma forma surpreendente e contra-intuitiva, conhecem-se a Fada Boa e a Bruxa Malvada do Oeste, as suas motivações e os seus sonhos, com a panóplia de referências a desfilar com interpretações perfeitamente diversas das que recordamos do filme de 1939 (o Homem de Lata, os sapatinhos de rubi, o Espantalho, a Bruxa do Leste, os Munchkins, o Feiticeiro, o Leão Medroso, os campos de papoilas, o Castelo, os macacos voadores, a vassoura... nada escapa a esta nova lente).
O musical é da autoria de Stephen Schwartz, tendo estreado originalmente na Broadway em 2003 (onde ainda está em cena - aliás, onde estreou nunca fechou as suas portas). A produção de Melbourne conta com valores superiores de encenação e duas cantoras principais (Amanda Harrison e Lucy Durack) de primeira água. O musical está em cena no Regent Theatre, em Collins Street, apresentando-se esta engalanada com as árvores iluminadas de verde e os candeeiros em volta também em tons da Cidade Esmeralda; na criação de ambiente, o foyer serve "Ozmopolitans" verdes e à saída, um cartaz avisa os espectadores que estão a sair de Oz e a entrar no mundo real...

Philip Glass - Book of Longing (15-17 Outubro, Melbourne)


Philip Glass estará em Melbourne para três concertos a 15, 16 e 17 de Outubro. Irá interpretar a nova composição de baladas "Book of Longing", inspiradas pelo livro do mesmo nome de Leonard Cohen. O concerto será ilustrado com imagens desenhadas por Cohen.

Melbourne Art Fair - 30 de Julho a 3 de Agosto

Abre hoje a bienal Melbourne Art Fair, uma das principais exposições de arte visual contemporânea da Ásia-Pacífico. Este ano, reúne cerca de 80 galerias de todos os territórios australianos e ainda de Auckland, Wellington, Beijing, Dublin, Frankfurt, Hong Kong, Kuala Lumpur, Lucerne, New Delhi, Osaka e Seoul. A exposição decorre no Royal Exhibition Building até dia 3 de Agosto.

Eunice Muñoz : 80 anos


Eunice Munõz festeja hoje 80 anos de vida.
Aqui lhe deixamos uma saudação, recordando a última vez que a vimos em palco, no Maria Matos (Lisboa), no ano passado (2007), quando contracenou com o Diogo Infante, na peça A dúvida, do dramaturgo John Patrick Shanley.

Orquesta Sinfónica Nacional da Ucrânia - 34.º Festival do Estoril

Hoje, dia 30 de Julho, pelas 21 h., a Orquesta Sinfónica Nacional da Ucrânia, realizará, no âmbito do 34.º Festival do Estoril, o seu segundo concerto no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (Lisboa).
Do programa de hoje poderemos assistir:
- à estreia absoluta de uma composição de João Madureira, "Lira para orquestra" (inspirada na poética de Sophia de Mello Breyner, Ana Hatherly e Miguel Torga);
- a António Rosado como solista na Rapsódia para piano e orquestra sobre um tema de Paganini, de Rachmaninov.
- e à Sinfonia n.º 4 de Tchaikovsky

Ontem, dia 29, tivemos a oportunidade, em conjunto com M., de escutar, o seu primeiro concerto, sob a direcção do maestro Volodymyr Sirenko. Num programa perfeito onde se tocaram obras de Mussorgsky (Uma noite no Monte Calvo); de Prokofiev (Concerto para piano e orquestra n.º 1 em Ré bemol Maior op.10); e de Rachmaninov (Sinfonia n.º 2 em Mi menor op. 27). Foi admiravel a execução do jovem pianista Olexandr Chugai [Alexander Chugai], como solista, na obra de Prokofiev.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Para João Soares e não só...


YouTube: vastvision

Elina Garancas
Camille Saint Saens "Mon coeur s'ouvre à ta voix" da ópera "Samson et Dalila".
Baden Baden 3-08-2007.

Tchaikovsky: concerto para violino em Ré

Para M. que adora violino

YouTube: DrMontague
Tchaikovsky
Violin Concerto in D (Part 1c)
Maxim Vengerov

De quem são estas armas?

No Museu do Oriente (Lisboa, Portugal), encontra-se uma colcha, bordada em seda, com estas armas no centro. Pode ser que o nosso amigo J.P. me saiba esclarecer. Obrigado

Pensamento do dia


"When I believe in something, I fight like hell for it."

Steve McQueen
(na imagem com Natalie Wood)

Mestres cantores do século XX: Rita Streich

Rita Streich, o “Rouxinol de Viena”, foi uma das maiores intérpretes de Mozart e Strauss do século passado. A naturalidade e o timbre fascinantes da sua voz (soprano coloratura), acompanhada de um domínio técnico ímpar, colocaram Streich no estrelato dos grandes nomes do canto lírico.

Rita Streich nasce a 18 de Dezembro de 1920 em Barnaul (Nowosibirsk/Rússia). Após a Segunda Guerra Mundial, muda-se com os seus pais para a Alemanha (Essen e, posteriormente, Jena). Rita cresce num ambiente bilingue, seu pai é alemão, sua mãe russa. A habilidade linguística adquirida seria de enorme utilidade para a sua carreira. Streich viria a interpretar obras de Rimski-Korsakow e de outros compositores russos sem qualquer dificuldade.

Estuda canto em Augsburg e Berlim, com artistas importantes da época, entre eles, Paula Klötzer, Willi Domgraf-Fassbaender e Erna Berger que descobre e promove o talento de Rita. Em 1946, é convidada a integrar a companhia residente da Deutsche Staatsoper de Berlim. Estreia-se como Pajem no Rigoletto de Verdi. Nas temporadas seguintes, interpreta vários papéis, tais como a Olympia nos Contos de Hoffmann de Offenbach ou a criada Blonde no Rapto do Serralho de Mozart.

Rapidamente, torna-se conhecida do público e críticos. Surgem os primeiros convites para produções em Bayreuth (1952), Viena (1953) e Salzburgo (1954). Seguem-se interpretações em Roma, no Scala de Milão, Covent Garden e Chicago. Actua nos principais festivais de ópera, entre eles, nos de Glyndebourne e de Aix-en-Provence.

O seu percurso durante os anos 50 é notável: a soubrette cómica e, por vezes, insolente transforma-se num soprano de coloratura multifacetado e tecnicamente seguro. Streich domina um repertório vasto de obras de Mozart (Idomeneo, Così fan tutte, O Rapto do Serralho, a Flauta Mágica/Rainha da noite, as Bodas de Fígaro, Don Giovanni), Richard Strauss (O Cavaleiro da Rosa) ou Weber (Der Freischütz).
A opereta clássica sem Rita Streich – impensável! Refira-se as actuações como Adele no Morcego de Johann Strauss, ou os registos de televisão nos anos 60 no Zigeunerbaron (J. Strauss) ou Der Bettelstudent (Karl Millöcker).

A partir de 1974, ensina canto na Escola Superior Folkwang de Essen e dá aulas de Masterclass em Salzburgo. Entre 1983 e 1987, é directora do Centre du Perfectionnement d'Art Lyrique em Nice.

Rita Streich morre a 20 de Março de 1987 em Viena, vítima de um tumor cerebral.

"A catedral do ser"

[...]

É chegada a hora de construíres a catedral do ser
[...]

Vigília força vigor no abrigo do ser
são sabedoria justiça e humildade
nada deves ousar nada deves temer
até que em ti se refaça a eterna unidade


José Manuel dos Santos, O livro dos registos © 1995

Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lângida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...


Camilo Pessanha, in Clepsidra, ©1920

Acasos de atraso de avião: um novo amigo

Hoje tive um atraso de quase duas horas num vôo, suficiente para me deixar particularmente irascível, até começar a ler a notável obra de Frederico Lourenço, "Poesia grega de Álcman a Teócrito". Fui de grata descoberta em grata descoberta e houve um autor, para mim desconhecido, que me cativou particularmente: Teógnis (século VI a.C.).

Não ames com palavras, tendo noutro lado mente e coração,
se me amas e se fiel é a tua intenção,
Ama-me com mente pura, ou então rejeita-me
e odeia-me e opta pelo conflito aberto.
Obrigado aos meus pais pelo presente!

Obsessão matutina

Não sei porquê, mas desde manhã cedinho que ressoa na minha cabeça a ária "Mon Coeur S'ouvre à Ta Voix" de Camille Saint-Saëns.

Talvez reduzi-la a blog faça algum exorcismo?

Mon coeur s'ouvre à ta voix comme s'ouvrent les fleurs
Aux baisers de l'aurore!
Mais, ô mon bien-aimé, pour mieux sécher mes pleurs,
Que ta voix parle encore!
Dis-moi qu'à Dalila tu reviens pour jamais!
Redis à ma tendresse
Les serments d'autrefois, ces serments que j'aimais!
Ah! réponds à ma tendresse!
Verse-moi, verse-moi l'ivresse!

Ainsi qu'on voit des blés les épis onduler
Sous la brise légère,
Ainsi frémit mon coeur, prêt à se consoler
À ta voix qui m'est chère!
La flèche est moins rapide à porter le trépas,
Que ne l'est ton amante à voler dans tes bras!
Ah! réponds à ma tendresse!
Verse-moi, verse-moi l'ivresse!

VANTAGENS DA INTERNET SEM FIOS

Graças a um visitante amigo e ao seu portátil dotado de internet sem fios, posso partilhar o que tem sido este período de férias até agora : assistir ao Tio Vânia encenado por São José Lapa no seu Espaço das Aguncheiras e ser bem surpreendido, conhecer Tróia na era pós-Belmiro de Azevedo, ainda meio estaleiro, e muita praia embora com algum vento.
Saudações bloguísticas e até sexta.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Homenagem a quem faz anos esta semana!

Uma pessoa amiga e querida (J.) faz anos esta semana. Aqui fica, em sua homenagem, uma ária da opereta la Grande-duchesse de Gérolsteins, composta por Jacques Offenbach

YouTube: bigpinkypig

O segredo do Epicurismo Napolitano

«[...] la sagesse est le principe et le plus grand des biens. C'est pourquoi elle est même plus précieuse que la philosophie, car elle est la source de toutes les autres vertus puisqu'elle nous enseigne qu'on ne peut pas être heureux sans être sage, honnête et juste, ni être sage, honnête et juste, sans être heureux. Les vertus, en effet, ne font qu'un avec la vie heureuse et celle-ci est inséparable d'elles.»
Epicuro («Carta a Meneceu sobre a felicidade»)

MiTo - Festival

De 1 a 25 de Setembro, nas cidades de Milão e de Turim, decorre a segunda edição do Festival Internazionale della Musica : MiTo. Oportunidade para ver e ouvir 230 espectáculos de música (clássica, étnica, jazz, pop e rock). Em palco vão estar cerca de 4000 artistas de 30 nações. Uma grande parte dos espectáculos são gratuítos. A primeira edição foi uma maravilha... vamos esperar pela segunda.

http://www.settembremusica.it/

[Estados de alma]

Minha alma ergueu-se para além de ti...
Tive a ânsia de mais alto
- abri as asas, parti!


Outubro 1922

Judith Teixeira

Sugestão do dia


A 34ª edição do Festival do Estoril prossegue com a sua programação interessante.

A Orquestra de Pulso y Púa de la Universidade Complutense de Madrid, sob a direcção de José Luiz Ráez Pérez, interpretará hoje, às 21.30h, no Hotel Palácio do Estoril, obras de vários compositores, entre eles, Alonso, Tárrega, M. de Falla (na imagem), Rossini, Boccherini e Chabrier.

Jakob Fugger ou a arte de eleger um imperador

A bela cidade de Augsburg (Baviera) foi um dos centros económicos e políticos mais significativos da Europa do século XVI. Várias foram as famílias desta cidade que geraram riqueza através do comércio de tecidos e especiarias, abrindo delegações nas principais metrópoles europeias da época, entre elas, em Lisboa.
Os Welser e os Fugger são, seguramente, os empreendedores mais ilustres de Augsburg. Da longa história dos Fugger destaca-se Jakob Fugger. Foi muito mais do que um homem de negócios bem sucedido. A ele, Augsburg deve o período dourado da sua história. E a ele, o Ocidente deve o seu último imperador universal.

12 de Janeiro de 1519. Morre Maximiliano I., imperador do Sacro Império Romano de Nação Germânica. Sua sucessão é disputada entre Francisco I de França e o neto de Maximiliano, Carlos, de 18 anos e filho de Filipe de Habsburgo, o Belo, e de Joana de Castela (a Louca).

Os príncipes eleitores alemães, em constante receio de perder os seus privilégios a um soberano poderoso, apoiam Francisco I. O monarca francês entra em competição, pois o seu rival de Habsburgo orgulha-se de ter Espanha, Nápoles, os Países Baixos e a Borgonha já sob o seu domínio. Ser ainda o novo imperador significaria, para Carlos, um poder inimaginável de dimensão europeia e global, tendo em conta as colónias sul-americanas pertencentes a Espanha.

Francisco I pode contar com a bênção papal de Leão X. Os agentes franceses prometem fortunas de ouro aos príncipes alemães, caso estes mantenham a sua preferência pelo rei de França.

Mas Jakob Fugger, parceiro de negócios de Maximiliano I, entra em cena. Dada a sua boa relação de confiança com a casa de Habsburgo, concentra todos os esforços na continuidade desta linha. E Fugger não só promete, como oferece de facto compensações financeiras bem mais “atractivas” a quem se decida a favor de Carlos: 852.000 ducados serão o prémio que os príncipes alemães podem auferir ao tomar o voto “certo”. 544.000 ducados são da autoria do próprio Fugger, 143.000 são financiados pelos Welser e o resto é emprestado por banqueiros italianos.

Uma quantia enorme, mesmo para Carlos em caso de vitória. No entanto, a perspectiva de um império vale bem este esforço de tesouraria (as condições do reembolso do empréstimo, remunerado a uma taxa de juro interessante aos olhos de Fugger, são previamente fixadas e acordadas).

E assim, a 28 de Junho de 1519, é eleito o novo imperador em Frankfurt: Carlos V, o último imperador universal por intercessão do primeiro capitalista da Modernidade.

domingo, 27 de julho de 2008

Munique festeja o seu aniversário





Munique comemora este ano um aniversário muito especial: há precisamente 850 anos, foi fundada por Henrique, o Leão, ao pé do rio Isar, "junto dos monges ... bei den Mönchen" (daí o nome München).

Com cerca de 1,2 milhões de habitantes, Munique é, hoje em dia, uma das metrópoles mais importantes da Europa, sob vários pontos de vista: sede de empresas alemãs de prestígio (BMW, Siemens, etc.) e de start-ups de alta tecnologia inovadora (há quem lhe chame o Silicon Valley bávaro) , lidera as estatísticas alemãs quando se fala de produto interno bruto e de bem-estar económico.

Capital do Estado da Baviera, é centro político com repercussões sempre muito respeitadas na Berlim prussiana.

E quanto à cultura: museus, ópera e teatros consolidam a posição de Munique como capital da cultura alemã.

Capital da cerveja (e de uma óptima culinária bávara), atrai multidões de turistas que se encantam com a beleza e elegância desta cidade.

fotos: vista geral; torres da catedral Liebfrauendom; Odeonsplatz; Câmara Municipal (Rathaus/Marienplatz); Castelo de Nymphenburg.

NINA SCHENK CONDESSA DE STAUFFENBERG: infância e juventude

Nina Magdalena Elisabeth Lydia Herta Freiin von Lerchenfeld nasce a 27 de Agosto de 1913 em Kowno (Lituânia). Seu irmão Ludwig morre aos cinco anos, vítima de pneumonia e meningite.
Seu pai, Gustav Freiherr von Lerchenfeld, é diplomata, sua mãe Anna provém da família báltica dos Freiherren von Stackelberg.

A família encontra-se na Rússia, quando tem início a Primeira Guerra Mundial. Enquanto representante da Alemanha, considerada a agressora principal do conflito, Gustav von Lerchenfeld é detido em São Petersburgo sem acusação formal. Apenas ano e meio depois, é libertado por intervenção de diplomatas da Embaixada de Espanha a quem Anna, parente da rainha Victoria Eugénie, recorre ao fim de uma odisseia por várias representações europeias. Os três regressam à Alemanha.

Após uma breve estada em Bayreuth, mudam-se para a cidade de Bamberg (Baviera) onde Nina passa grande parte da sua infância. Apesar da rigidez e da disciplina, próprias de uma educação da época, vive-se um ambiente de afecto e carinho. Nas suas memórias, Nina guarda recordações de uma juventude muito feliz. O temperamento da mãe contribui, seguramente, para a boa disposição em casa. Fala-se em três idiomas, alemão, russo e francês. O estilo de vida, característico da alta aristocracia, é cosmopolita, o verão é passado na Riviera, Suiça, Baden-Baden ou Paris.

Nina segue os seus estudos num colégio interno em Heidelberg. Ao contrário das suas amigas, empenhadas na aprendizagem de tarefas tradicionais, Nina interessa-se por livros de aventura. Seus grandes ídolos são Winnetou e os três Mosqueteiros.

Aos 16 anos, Nina regressa a casa. Passa semanas de férias descontraídas, na companhia de primos e amigos. Os planos dos pais são ambiciosos, pois deverá a filha prosseguir com os estudos em Lausanne.

A 1 de Janeiro de 1930, um militar de 23 anos, de nome Claus Philipp Maria Schenk von Stauffenberg, é destacado para Bamberg para continuar a sua jovem carreira militar. Esbelto e com um futuro promissor, é naturalmente "objecto" de muita atenção por parte do universo feminino local. Os seus interesses provam uma cultura extraordinária, para além de dominar o violoncello, alimenta a sua grande paixão pela literatura, instruída por sua mãe, Karoline von Stauffenberg, que se correspondia com Rainer Maria Rilke. Escreve poesia nos seus tempos livres.

Na Primavera desse ano, Claus conhece Nina. Terá sido amor à primeira vista. "Quando vi Nina, soube imediatamente: eis a mãe dos meus filhos", assim expressa Claus o seu fascínio. Em Novembro de 1930, é anunciado o noivado. Durante três anos, Claus e Nina, bem como as suas famílias intensificam o seu relacionamento. A 26 de Setembro de 1933, casam-se em Bamberg.

A viagem de lua-de-mel leva-os até Verona, Florença e Roma. Neste percurso, torna-se evidente o contexto político em que a Europa se afunda: Itália está sob o domínio de Mussolini, a Espanha sob o regime de Franco. E poucos meses antes, a Alemanha tinha sido apoderada por um homem e um partido que viriam a determinar radicalmente o futuro do jovem casal Claus e Nina.

To be continued